Montes Claros

A cidade dos tolebas

Montes Claros é mesmo uma cidade atípica. Foi fácil chegar a essa conclusão depois de um rápido passeio pela praça da Matriz na noite da última sexta-feira, 17/12. A praça abriga a Feira de Artesanato que acontece em horário especial durante o período de compras para os festejos natalinos e é curioso observar o contraste de cores, aromas e sabores, além da diversidade da arte produzida por dezenas de artesãos da cidade e região que ali expõem seus trabalhos.

Logo que se chega à praça, o primeiro impacto é olfativo, uma mistura do cheiro do arroz com pequi e do acarajé da baiana do Santos Reis.

Mais adiante, a barraca de CDs piratas divide espaço com a literatura de cordel, os licores e o berrante de Jason de Morais, que cochila preguiçosamente enquanto o freguês não vem.
As camisetas de malha decoradas com fitas dos catopês e com o triângulo da bandeira mineira estão expostas tendo, de um lado, as batas e vestidos indianos e, do outro, bijuterias heavy metal.

Mas toda essa mistura é natural, típica de um país de diversidade como é o Brasil. Atípico é o que se ouve.

Montes Claros é uma cidade cuja efervescência cultural é conhecida reconhecida nacional e até internacionalmente, principalmente pela qualidade da música produzida pelos seus artistas. Mas enquanto artesãos se inspiram na cultura da região para produzir suas peças e, ainda, promover a feira em um local que é a história viva da cidade, a música que vem do coreto destoa de todo o cenário.

Em um volume absurdamente alto, o que se ouve não é chorinho, não é samba, não é grupo Raízes, Agreste, Maia e Boavista, Pedro Boi, Beto Guedes, Bob Marcílio ou os irmãos Coimbra. Nem mesmo é o sertanejo da dupla Sérgio e Rodrigo ou Roberto e Ramon.

Qual o quê! O som do coreto vem de outras terras: Lara Fabian, Celine Dion, Fred Mercury, baladas dos anos 70/80, lindas, românticas, mas que nada têm a ver com feira, com a praça ou com as pessoas que por ela circulam, pelo menos naquele momento.

E quando alguém se arrisca a pedir ao pseudo DJ para mudar a música ou abaixar o volume, a resposta mal-educada já está na ponta da língua: “essas músicas são muito bregas”.

O que será que os organizadores pensam? Se é que pensam. Sim porque, muito além do aspecto financeiro, a feira parece ter o firme propósito de valorizar a arte montes-clarense e norte-mineira. Pelo menos é essa a idéia divulgada pelos organizadores, principalmente a associação de artesãos. Seria uma excelente oportunidade de fazer uma conexão entre os artistas de um modo geral, como é feito, por exemplo, na Feira do Sol, em Goiânia, onde os artistas aproveitam o grande público que visita a feira para divulgar sua música. A feira chega, inclusive, a revelar novos talentos.

O curioso nesta história é como algumas pessoas que se despontaram pela verve artística, mas ao chegar aos cargos onde poderiam criar oportunidades para seus parceiros da arte, ignoram. A desculpa é sempre a mesma: falta de recurso, mas isso se acontece mesmo em casos em que não há necessidade de nenhum investimento financeiro, como é o caso da Feira de Artesanato que, se não dá mais para pagar o cachê ao artista, como era feito anos antes, pelo menos priorizasse seu trabalho no som mecânico, que não tem custos.

Parece que tinha razão quem disse que, em vez de cidade da arte da cultura, Montes Claros é mesmo a cidade dos tolebas.

Comentários

  1. Ô Amiga.
    Parabéns pelos comentários objetivos e isentos. Gostei.
    Mas, traduz pra gente que não é de Montes Claros o que vem a ser "toleba"
    www.terapiadecutuvelo.blogspot.com
    Um abraço.
    Rubem

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